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terça-feira, 11 de junho de 2013

Cynara Menezes: "A internet é o único futuro possível para o jornalismo."

    Cynara Menezes é jornalista formada pela Universidade Federal da Bahia. Trabalhou nos veículos mais respeitados do país em diversas áreas. Hoje atua na revista CartaCapital. Tem um blog chamado Socialista Morena: esquerdismo way of life. É palestrante, socialista e escritora. Contribui para o jornalismo brasileiro por ser uma profissional que se posiciona a favor dos trabalhadores e dos estudantes. Além de fazer parte de uma empresa assumidamente de esquerda. Sendo assim, informam e fazem um contraponto com o que a mídia tradicional propõe, oferecem conhecimento e abrem espaço para questionamentos na sociedade.


Maiara Marinho: Qual a diferença mais aparente e relevante que você notou entre as empresas que trabalhou?

Cynara Menezes: Eu acho que a maior diferença é entre respeitar ou não seu texto. Fui muito feliz nos anos em que trabalhei na Folha de S.Paulo, onde minhas pautas eram bem aceitas e meu texto, respeitado. Tive problemas na revista Veja, onde fiquei apenas oito meses, porque modificavam todo o meu texto, inclusive acrescentando trechos que não apurei, como relatei no post publicado em meu blog. Na CartaCapital, tenho a vantagem extra de concordar com a linha editorial do veículo. Pensamos parecido ideologicamente, o que eu não tinha na Folha. Lá existe uma imposição de "imparcialidade" na qual eu não acredito.
 
MM: O que significa “liberdade de expressão” no Jornalismo?

CM:
No jornalismo, como em qualquer outra atividade, liberdade de expressão é poder dizer o que se pensa. Sem, é claro, ofender ou caluniar ninguém. Não se pode confundir liberdade de expressão com irresponsabilidade ou agressão.

MM: Todo jornal ou revista tem um viés ideológico, mesmo que implícito?

CM: Sim. No Brasil, ao contrário de outros países, praticamente todos os jornais e emissoras de TV são conservadores. Em vários países existe imprensa liberal e conservadora, aqui só existe a conservadora. É uma pena, daria maior pluralidade à imprensa se houvesse também jornais mais à esquerda.

MM: Qual a importância da internet para o Jornalismo?

CM: A internet é o único futuro possível para o jornalismo. Acredito que os jornais estão próximos ao fim. Talvez as revistas sobrevivam, não sei dizer por quanto tempo. A internet é bacana porque torna a notícia acessível a qualquer um, tanto para ler quanto para fazer a notícia. Hoje, com as redes sociais, se você tiver alguma denúncia importante basta postar no facebook, por exemplo. Se ela for de fato importante, circulará. Democratiza a informação, sem dúvida. O lado ruim é que favorece o surgimento de farsantes, gente que não se informa, não lê e simplesmente copia o que pesquisou na rede.

MM: A imparcialidade ou a falta dela dependem do grau de conveniência?

CM: Acho que a imparcialidade é possível em algumas notícias. Em outras, não. É possível, numa matéria informativa, ser objetivo e imparcial. Mas quem escolhe as matérias que serão as mais importantes? O dono. E nisso não tem imparcialidade alguma. Ele vai dar manchete para a notícia que mais lhe interessa. Qual a imparcialidade que há nisso?

MM: Qual o motivo principal para um fato virar notícia?

CM: Há várias razões. Uma notícia pode ser divertida, pode ser uma denúncia, pode afetar muitas pessoas... O principal teria que ser o aspecto "novidade". As pessoas gostam de ler sobre coisas que não sabiam. A maneira como se aborda também pode ser uma novidade, ainda que o fato seja conhecido.

MM: O Jornalismo originalmente era um meio de denúncias políticas e que se posicionava – claramente – ao lado das classes oprimidas. Isso se perdeu?

CM: Nunca achei que o jornalismo se posicionasse ao lado das classes oprimidas. O jornalismo sempre foi porta-voz das elites. A imprensa alternativa é que fazia este papel. Hoje não existe mais. Tem alguns veículos na internet que fazem isso, mas são pequenos ainda. Tenho esperança que a crise no jornalismo os impulsione.

MM: Democratizar a comunicação significa diminuir os gastos e, portanto, os lucros?

CM: Democratizar a comunicação significa que ela não deve ser propriedade de meia dúzia de famílias como acontece no Brasil. Mas eu não acho que isso dependa só de uma lei. A lei pode impedir que haja oligopólio, mas depende também de nós, jornalistas, o surgimento de uma imprensa nova, mais vinculada aos anseios da população e aos movimentos sociais.

MM: Por que o Socialismo? 

CM: Porque o capitalismo é a barbárie e o socialismo, a civilização. Se o socialismo não tivesse surgido, não teríamos férias, jornada de oito horas de trabalho... Todas estas conquistas são fruto das lutas socialistas. Não estaríamos falando em justiça social ou bradando contra a desigualdade no mundo sem o socialismo. O socialismo é a consciência, o "grilo falante" do capitalismo.

MM: Por que o Jornalismo?

CM: Porque sempre gostei de ler e escrever. É uma ótima profissão, sempre colocou o pão em minha mesa, não me arrependo de tê-la escolhido.

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